Marcha em Equino Idiopática

Suspensório de Pavlik: Dicas para Colocação
janeiro 18, 2021
Dor do Crescimento | Dr. Luiz de Angeli
Dor do Crescimento: será que devemos nos preocupar?
maio 5, 2021

O que é?

A marcha na ponta dos pés, também conhecida como marcha em equino, refere-se simplesmente ao hábito de andar sem tocar os calcanhares no chão. Quando este hábito persiste em crianças acima de 2 anos de idade que não possuem problemas neurológicos ou ortopédicos, chamamos ao quadro de “Marcha em Equino Idiopática” (Andar na ponta dos pés).

Quais são as causas da marcha em equino idiopática?

Muitos pacientes que andam na ponta dos pés possuem problemas neurológicos, como a paralisia cerebral, sequelas de traumas ou outras síndromes. Contudo, neste artigo vamos abordar os casos de pacientes que não apresentam estas condições.

A Marcha em Equino Idiopática acontece nos pacientes previamente hígidos – ou seja – que não possuem outros diagnósticos. A causa exata da doença ainda é desconhecida. Sabemos que uma influência genética pode estar presente, pois existem relatos na literatura de famílias com vários casos.

Quando devemos nos preocupar?

Com dito anteriormente, na maioria dos casos andar na ponta dos pés até os 2 anos de idade pode ser considerado normal. Porém, se o hábito persistir após esta idade, é importante buscar orientação profissional.

Quais são os níveis de gravidade da marcha em equino idiopática?

É importante entender que a marcha em equino idiopática é representada por vários níveis de gravidade. A doença engloba desde casos em que a criança anda de vez em quando na ponta dos pés até casos em que o paciente não consegue em hipótese alguma ficar de pé tocando os calcanhares no chão.

Marcha em Equino Idiopática | Dr. Luiz de Angeli

Imagem demonstrando um caso grave. O paciente não consegue tocar os calcanhares no chão quando fica em pé.

Outro aspecto que devemos observar é a capacidade de dorsifletir o tornozelo, ou seja, de “de colocar o pé para cima”. Nos casos mais leves, os pacientes fazem isso livremente e até conseguem andar somente sobre os calcanhares. Já nos casos mais graves, o pé fica sempre apontado para baixo.

Quais são os sinais de que o caso pode ser mais grave?

Os principais sinais e sintomas de que o caso pode ser mais grave são:

  • O paciente não conseguir ficar em pé encostando o calcanhar no chão;
  • Calos e pele grossa na sola da parte da frente do pé;
  • Calcanhar com pele fina e cor branca, parecida com a da cava do pé;
  • Calcanhar fino;
  • Panturrilha alta e grossa;
  • Alargamento da base anterior do pé (“frente do pé larga”).
  • Dificuldade de levantar o pé até a posição neutra.
Marcha em Equino Idiopática | Dr. Luiz de Angeli

Imagem que demonstra a posição neutra do tornozelo. Se o pé do paciente não consegue chegar nessa posição quando empurrado para cima, dizemos que existe uma contratura fixa da musculatura da panturrilha em equino.

 

Marcha em Equino Idiopática | Dr. Luiz de Angeli

Imagem que evidencia estigmas de gravidade da Marcha em Equino Idiopática: calosidades na planta do pé, calcanhar branco e fino, e o alargamento da base anterior do pé (“frente do pé larga”).

Quais são as principais opções de tratamento da Marcha em Equino Idiopática?

Alguns estudos mostram que até 79% dos casos podem se resolver espontaneamente. Logo, a observação é uma das opções nos casos em que não há sinais de gravidade.

Outras opções de seguimento são:

  • Fisioterapia;
  • Terapia Ocupacional;
  • Uso de Órteses Suropodálicas, ou AFOs (Ankle-Foot Orthoses)
  • Realização de gessos seriados;
  • Aplicação de toxina botulínica;
  • Cirurgia de alongamento da musculatura da panturrilha.
Marcha em Equino Idiopática | Dr. Luiz de Angeli

Imagem do intraoperatorio, demonstrando uma das tecnicas de alongamento da musculatura da panturrilha.

É relevante salientar que as opções de tratamento podem ser combinadas entre si, segundo o julgamento do médico que está acompanhando o paciente. A indicação mais precisa de cirurgia é para os pacientes que já desenvolveram uma contratura dos músculos da panturrilha, chamados de gastrocnêmio e solear, o que os impede de pisar no chão com o calcanhar.

E nos casos de cirurgia, como é a recuperação?

Ressaltamos que os protocolos de recuperação cirúrgica dependem do cirurgião e das condições do paciente, e podem variar de caso para caso.

Contudo, um dos protocolos de reabilitação mais aceitos é o uso de um gesso para manter o alongamento da panturrilha após a cirurgia por 4 a 6 semanas. Lembramos que durante este tempo o paciente pode andar, mesmo com o gesso. O reforço com gesso sintético ajuda o gesso a não quebrar durante esta fase.

Depois da retirada do gesso realiza-se o uso de órteses suropodálicas ou AFOs por alguns meses (geralmente entre 3 a 6 meses), para que a criança se acostume a andar adequadamente. Além disso, o treinamento de marcha e os alongamentos realizados na fisioterapia são essenciais durante a recuperação.

E se a criança voltar a andar na ponta dos pés após o tratamento?

Nos casos em que há falha de tratamento conservador ou cirúrgico, sempre podemos repetir os tratamentos ou progredir para uma tratamento mais agressivo. Como existem muitas opções de tratamento, devemos explorar as diferentes estratégias até conseguirmos alcançar uma marcha dentro dos padrões de normalidade para os nossos filhos e filhas.


Fontes:

  1. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/24415128/
  2. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33405465/
  3. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/28092971/

FAQ

Qual é a causa da Marcha em Equino Idiopática?

A causa ainda é desconhecida, mas acredita-se que haja uma herança genética pelo fato de que a doença é descrita em membros da mesma família na literatura.

Quando devo procurar o ortopedista pediátrico nestes casos?

Se o seu filho ou filha anda na ponta dos pés e tem mais de dois anos, deve ser realizada uma avaliação com o ortopedista pediátrico.

Nos casos de cirurgia, qual é o tempo de recuperação?

Em geral uma bota de gesso é usada por 4 a 6 semanas. Após esse período, orteses suropodálicas ou AFOs são utilizados por 3 a 6 meses. Durante todo o período de recuperação o paciente é estimulado a andar. Não é necessário ficar sem pisar no chão durante a recuperação.