Sentar em W é um hábito comum entre crianças pequenas. Esta posição se refere à postura de se sentar sobre os joelhos com as pernas para fora, como demonstra a figura abaixo.
Imagem que exemplifica uma criança sentando em W. Perceba como as pernas ficam posicionadas para fora.
Sabemos que muitos pais se preocupam em relação a este posicionamento na hora das crianças sentarem. Por isso, este artigo discute os principais tópicos e dúvidas relacionados ao tema.
O hábito de sentar em W, conhecido em inglês como “W-sitting”, tem uma causa bem definida. Ela se chama “anteversão femoral aumentada”. Isso significa que o fêmur – o osso da coxa – é torcido para frente, o que facilita o quadril a rodar para dentro. Esta questão anatômica é fisiológica, ou seja, normal na maioria das crianças. Veja as figuras abaixo para entender melhor a “anteversão femoral aumentada”.
Imagem que demonstra uma paciente de 6 anos que não possui a “anteversão femoral aumentada”. Veja como, ao rodar internamente os quadris da paciente, as canelas da paciente ficam longe da maca. Portanto, esta paciente não tem facilidade para sentar em W. Este grau de rotação é semelhante ao encontrado na maioria dos adultos (45 graus de rotação interna dos quadris).
Imagem exemplificando a “anteversão femoral aumentada” em uma paciente que senta em W. Perceba que ao rodar os quadris internamente, as canelas da paciente quase tocam a maca. Ou seja, há bastante facilidade para girar os quadris para dentro, o que facilita a postura de sentar em W.
Imagem demonstrando a rotação externa do quadril de uma paciente com “anteversão femoral aumentada”. Perceba que o ângulo que o quadril roda para fora é muito menor do que o que o que a paciente consegue rodar para dentro. Por isso, os pacientes que possuem a anteversão femoral aumentada preferem sentar em W ao invés de sentar na “posição do índio”.
Imagem exemplificando o que acontece quando a criança que possui “anteversão femoral aumentada” dobra os joelhos. Perceba como é fácil para a paciente sentar em W pois os quadris rodam bastante para dentro, ou seja, possuem bastante rotação interna.
Como costumo dizer para os pais, antes de sabermos como corrigir uma deformidade, precisamos nos perguntar se realmente precisamos corrigir a deformidade!
A “anteversão femoral aumentada”, que já aprendemos que é a responsável por fazer com que as crianças sentem em W, se corrige sozinha ao longo dos anos em pacientes neurologicamente normais. Logo, nós não precisamos fazer absolutamente nada para corrigir ou acelerar este processo! Isso acontecerá naturalmente ao passo em que a criança se desenvolve.
Veja o gráfico abaixo, para entender como a “anteversão femoral” e outras rotações se corrigem naturalmente ao longo do tempo em pacientes sem doenças neurológicas.
Gráfico que demonstra como a “anteversão femoral” se comporta ao longo do tempo (linha contínua). Perceba como a “anteversão femoral”em uma criança recém nascida tem em torno de 40 graus. Isso faz com que os quadris tenham mais facilidade em rodar para dentro, facilitando a postura de sentar em W. Ao longo do tempo, até que a criança termine o seu crescimento com 14 a 16 anos, ela vai diminuindo gradativamente, até chegar em torno de 10 graus. Com isso, a criança vai tendo mais dificuldade de sentar em W e abandona esta postura.
(Fonte: Honig et al. Curr Opin Pediatr 2021, 33:105–113)
A resposta é bem simples: não precisa! Já sabemos que sentar em W não causa nenhum problema ortopédico para a criança, nem na coluna, nem nos quadris, joelhos ou pés. Portanto, a recomendação mais atual é não corrigir as crianças que sentam desta maneira.
Além disso, é importante ressaltarmos que as crianças que se sentam assim se sentem mais confortáveis desta maneira. Por este motivo, se os pais corrigem a criança e pedem para ela sentar na “posição de índio”, a criança se sentirá mais desconfortável e não gostará da postura, a abandonando o mais breve possível.
Dessa maneira, corrigir a criança é frustrante para a própria criança, para os pais, e não traz nenhum benefício para o desenvolvimento ortopédico na infância.
Conclusão:
Não é verdade. Não há comprovações científicas – e nem faz sentido – que sentar em W causa qualquer tipo de problema para o desenvolvimento ortopédico da criança.
Não devemos fazer nada! Por 2 motivos: primeiramente, vimos que a postura de sentar em W se corrige naturalmente até a adolescência. Isso acontece porque a “anteversão femoral”, a qual é responsável pela facilidade de sentar em W, se corrige sem nenhum tipo de terapia. O segundo motivo é que não há comprovação que nenhum tipo de terapia ou dispositivo acelere este processo.
Não. Como dito anteriormente, fisioterapia, botas, palmilhas ou slings não possuem eficácia na correção da “anteversão femoral” e não devem ser utilizadas para este propósito.
Sabemos que a “anteversão femoral aumentada” se corrige até a adolescência. Portanto, devemos esperar até o paciente completar seu crescimento – na grande maioria dos casos – antes de pensarmos em procedimentos de correção.
Sim, felizmente são a minoria dos casos. Se isso ocorrer, o paciente necessita passar por avaliação para saber se o “excesso de anteversão femoral” gera algum problema funcional para o paciente (como dor, dificuldade de correr, pular, etc…). Caso o paciente possua um prejuízo funcional, existem opções de cirurgia para correção da deformidade rotacional do fêmur que podem ajudar o paciente a desempenhar melhor suas atividades. Um médico Ortopedista Pediátrico deve ser consultado nestes casos.