O tratamento para marcha em equino idiopática, pode ser feito de várias formas. O uso de palmilhas especiais é uma das opções.
Este tipo de postura ao caminhar pode corresponder à um espectro de normalidade no início da vida das crianças. Porém, quando nossos filhos tem mais de 2 ou 3 anos, começam a andar mais do que 50% do tempo do dia na ponta dos pés e esse hábito se mantém por mais de 6 meses, pelo menos acompanhar o paciente é necessário.
Sabemos que a maioria dos casos tende a se resolver sem nenhuma intervenção até 5 anos e meio de vida, como aponta este estudo. Por isso, consultar um ortopedista pediátrico é importante para decidir sobre a necessidade de tratamento.
Como exemplificado no artigo base sobre o assunto em nosso site, existem várias opções de tratamento para estes casos. As opções existentes são listadas abaixo:
Apesar de as opções de tratamento acima serem as mais clássicas, existe um novo tipo de tratamento com palmilhas especiais que apresentou bons resultados em uma série de casos publicada em 2018.
A palmilha especial, chamada pelos autores do artigo de “palmilha piramidal”, consiste em uma palmilha com uma elevação na parte da frente do pé que “incomoda” a criança que anda na ponta do pé. Ou seja, o intuito do dispositivo é fazer com que o paciente sinta um leve incômodo ao pisar na ponta dos pés e tenda a pisar mais com o calcanhar no chão.
Palmilha piramidal vista de cima e de lado. Perceba como a parte da frente da palmilha possui um estrutura elevada. Teoricamente, esta estrutura “incomoda” a ponta dos pés dos pacientes, fazendo com que eles tendam a andar com os calcanhares no chão.
Sabemos que a marcha em equino idiopática pode ser associada a um Transtorno do Processamento Sensorial. Alguns estudos levantaram esta hipótese, sendo que um conseguiu achar uma associação de distúrbios sensoriais quando compararam pacientes que andavam normalmente com aqueles que marcham em equino.
Logo, a palmilha tende a alterar a percepção sensorial do toque ao solo com a planta do pé, melhorando o padrão de marcha dos pacientes que pisam na ponta os pés.
O tempo de utilização ainda é controverso e não fica claro nos estudos. Contudo, no último estudo publicado sobre o tema os pacientes foram submetidos a um tempo de utilização médio de 2,7 anos, com tempo máximo de uso por 7 anos.
O tempo mínimo de utilização, exceto em casos que o paciente não suporte usar a palmilha, deve ser de 6-8 meses, segundo uma revisão publicada em 2013.
A taxa de sucesso reportada nos estudos médicos varia de 70% a 95,8%.
Sabemos por esses estudos que os pacientes que são mais novos e tem menos encurtamento do tendão de aquiles possuem mais chances de ter boa resposta ao tratamento.
Lembramos aqui que nem todos os pacientes são bons candidatos ao uso das palmilhas como tratamento para Marcha em Equino Idiopática. Os pacientes que podem se beneficiar do tratamento precisam conseguir levantar os tornozelos pelo menos até a posição neutra. As figuras abaixo demonstram os casos em que as palmilhas podem ser indicadas.
Entenda os graus de contratura (encurtamento) do tendão de aquiles:
A figura acima demonstra um caso que não possui nenhuma contratura do tendão de aquiles. Perceba como o tornozelo, quando empurrado para cima, chega a 20 graus de dorsiflexão. Ou seja, vai “para cima” sem problemas, o que é considerado normal. Nestes casos, as terapias conservadoras são indicadas, e a cirurgia não deve ser realizada.
Entenda os graus de contratura (encurtamento) do tendão de aquiles:
A figura acima demonstra um paciente com tendão de aquiles parcialmente encurtado. Perceba que o tornozelo, quando empurrado para cima, chega no máximo à posição neutra. Nestes casos, as terapias, órteses, palmilhas e gessos seriados podem ser utilizados. A cirurgia fica reservada nos casos de falha do tratamento conservador.
Por mais que não existam muitos estudos evidenciando resultados satisfatórios do tratamento com as palmilhas especiais, o tratamento pode valer a pena, pelo fato de ser uma intervenção barata e com baixo risco de complicações.
No caso de falha do tratamento, outros métodos como gessos seriados, órteses e a cirurgia podem ser utilizados.
Pelo fato de ainda não existirem estudos comparativos, o uso das palmilhas não é universalmente aceito para o tratamento de todos os casos de marcha na ponta dos pés. Portanto, sempre converse com o seu médico sobre quais são as melhores opções de tratamento para o seu filho/filha.
Como exposto nos artigos que publicamos, a marcha em equino é considerada anormal quando o paciente possui mais do que 2 ou 3 anos de vida, anda mais do que 50% do tempo na ponta do pé e mantém este hábito por mais de 6 meses. Se seu filho se enquadra nestas características, converse com seu pediatra ou consulte um ortopedista pediátrico.
Pelo nosso conhecimento, não existem muitos estudos científicos sobre a marcha em equino idiopática em adultos que não foram tratados na infância. Contudo, supomos que as alterações da marcha fisiológica causadas por um encurtamento crônico do tendão de aquiles possam ocasionar não só problemas nos pés, mas também problemas em outras articulações como quadris, joelhos e coluna. Isso pode ocorrer pois toda a dinâmica da marcha no plano sagital é alterada quando o paciente anda na ponta dos pés.